TEMPESTADE, DOR E DESEPERO
Quando o ônibus deslizou e capotou em um dia de chuva nas mediações da serra da Cantareira na zona norte de São Paulo, o desespero tomou conta dos trinta e cinco passageiros que estavam voltando para suas casas após um dia duro de trabalho.
Jonas o motorista tentou trazer o carro de volta a pista, mas a quantia de pessoas mais a qualidade de pneus e pista tornaram a manobra impossível.
O carro alongado capotou algumas vezes antes de parar e ser encoberto de lama todo amassado e contorcido levando ao desespero as pessoas dentro dele.
A pequena Valquíria estava falando com sua mamãe esperando a chegar e testemunhou por telefone o desespero das pessoas, Gilberto seu pai entrou em desespero ao perceber que sua esposa não atendia mais o telefone e confuso ao tentar acionar algum tipo de socorro.
As poucas testemunhas do acidente e os passageiros que conseguiam transitaram os telefones das centrais de emergência da cidade São Paulo.
Enfim o pedido de socorro chegou a central da Defesa civil e a situação foi recebida com mais clareza:
_Pessoal, um ônibus capotou sobre um deslizamento e foi soterrado em lama e entulho, eram cerca de trinta pessoas a bordo e temos pelo menos o óbito de três, o motorista e dois passageiros ainda desconhecidos. Rodrigo de Almeida era o homem em comando no plantão e começou a mobilizar as viaturas das forças de auxilio assim como helicópteros em direção ao local do acidente.
Pessoas já cercavam o ônibus e tentavam sem sucesso remover as toneladas de entulho enquanto de dentro o desespero era geral, ouvia se crianças e adultos em gritos de socorro e aos poucos a situação foi sendo exposta.
Os gritos de pernas e braços quebrados entre a tentativa de acordar quem estava em desmaio ou de identificar os óbitos e os casos mais leves se atrapalhavam em meio à escuridão e a falta de ar eminente que só piorava.
Meia hora depois os primeiros carros de resgate já iluminavam o local do acidente, a situação era delicada e homens experientes preparavam se para descer o declive em socorro das vitimas da fatalidade daquela noite de chuva forte e desespero.
O corpo de bombeiros dispunha de pás, picaretas e machados para tentar alcançar as pessoas dentro do coletivo com cuidado, a situação ainda era de risco, pois algumas raízes de arvores eram o único motivo do carro não deslizar ainda mais, o local acidentado corria som o risco de um novo deslizamento, e os profissionais sabiam que teriam que agir rápido para evitar o pior.
O Capitão Fontes era o responsável pela equipe e demandava a evolução do resgate:
-Amarrem cordas em toda a estrutura do ônibus, o quanto antes quero o numero de vítimas fatais e de sobreviventes, as ambulâncias cuidarão dos casos mais leves, as aeronaves se encarregarão do transporte dos casos de urgência, senhores, vamos retirar essas pessoas de e devolver a suas famílias essa noite para podermos voltar para as nossas!
Então rapéis foram improvisados em ganchos de cordas dos pick-ups e vigas de aços sustentavam o carro para que não houvesse um novo deslizamento.
Os familiares das vitimas e equipes de reportagem começavam a chegar, e o capitão Fontes sabia que isso só atrapalharia a missão, então providenciou barreira para que pessoas não se aproximassem da beirada da ribanceira que estava ainda em deslizamento leve.
Os parentes das vitimas gritavam seus nomes sem sucesso de resposta, não de resposta clara, pois ouviam toda a sorte de pedidos de socorro de dentro do ônibus.
Quando a porta traseira foi alcançada, o cabo dos bombeiros Romilson rompeu o vidro com o cabo de um machado comprovou a gravidade da situação, smartphones entre bolsas, mochilas, sacolas e lama enfeitavam a imagem catastrófica do interior daquele acidente.
Romilson identificou um braço que se mexia e quebrando a regra da mobilização o alcançou e começou a puxa ló de vagar, o braço era o de Sônia, a mãe da pequena Valquiria que a essa altura já estava na casa de sua avó esperando noticias de seu pai que tinha corrido até o local do acidente, eles moravam a poucos quarteirões do local.
Ela foi repassada por uma corda humana até ser alcançada pelos homens do corpo de bombeiros que de imediato a enrolaram em mantas térmicas e ali mesmo, no meio do resgate conseguiram identificar o tipo de gravidade, Sonia estava cociente, mas tinha fraturado uma costela e sua perna esquerda estava do mesmo modo.
Os passageiros que conseguiam se arrastaram para fora do ônibus eram conduzidos para baixo, um corrimão de cordas foi improvisado em direção ao fundo do deslizamento onde havia uma pequena clareira que mal dava para o pouso do helicóptero que já estava aguardando para retirar as vitimas para o hospital mais próximo do local.
As equipes de reportagem buscavam todo tipo de informação e já estavam a par da gravidade que foi passada pelo nosso capitão:
-Temos a bordo trinta e cinco pessoas e já temos noticia de sete óbitos, entre as vitimas temos um acriança de sete anos que não resistiu no momento do rolamento, o motorista e mais três mulheres e dois homens sendo um deles um senhor de aparentemente sessenta anos, a situação esta entrando em momento de resgate das ultimas vitimas, assim que tivermos asa informações mais precisas diremos os hospitais que atenderão as vitimas, o corpo das vitimas fatais estarão a disposição para reconhecimento no I.M.L pelas famílias, é uma situação de tristeza e comoção e faremos o possível para atender a todos os envolvidos, dentro e fora do local do acidente.
O capitão havia dito isso, pois já tinha tomado conhecimento dos casos de parentes que estavam no local e por causa do desespero passavam mal e até desmaiavam com a notícia ou a visão de seu ente querido sendo retirado sem vida de dentro do ônibus.
Uma senhora de idade avançada estava de joelhos na calçada próxima a ribanceira e gritava por seu filho morto, o incomum era que o rapaz havia falecido a cerca de um ano atrás vitima de um atropelamento naquele mesmo local, o acidente afetava até mesmo os fantasmas que ali existiam.
Após seis horas de resgate intenso, as vitimas já estavam todas fora do ônibus e algumas eram atendidas ali mesmo no asfalto molhado, enquanto as viaturas de resgate iam e vinham dos hospitais, algumas famílias já podiam se sentir aliviadas com o retorno de seu parente ferido enquanto outras sem sorte entravam em prantos por suas perdas dolorosas, naquela noite, oito famílias choravam em desespero suas perdas, as das sete vitimas daquele acidente, e a perca de Don
a Ivone que ajoelhada no meio da chuva comovia a todos com a perda de seu único filho a exatos dose meses:
-Mauriciooo, volta filho, volta pra mamãe, volta, por favor, meu Deus, trás meu filho de volta pra mim...
- FIM -